Hobby, por definição, é aquela atividade que fazemos em nosso tempo livre. Algo que nos interessa, relaxa, dá prazer… E por isso, fazemos tanto que desenvolvemos habilidades naquilo, e o resultado fica cada vez melhor. Aí caímos na besteira de transformar o hobby em profissão.
Confúcio diria: trabalhe com o que ama e nunca mais precisará trabalhar um dia na vida.
Filósofos brasileiros (ou seja, o povo) já abrasileiram a frase: trabalhe com o que ama e nunca mais amará nada na vida.
trabalhe com o que ama e nunca mais amará nada na vida.
Sabedoria popular brasileira.
Uma jovem jornalista que gosta de escrever crônicas resolveu montou um site para publicar suas histórias.
Ela começou a receber visitas, comentários, elogios… Logo, começou a receber um dinheirinho de anúncios, e achou que seria legal profissionalizar seu site.
Largou seu emprego chato de assessora de imprensa, passou a trabalhar de pijama, sem compromisso de horário, ganhando a mesma coisa.
O blog virou um sucesso! Que sonho estava vivendo! Ser paga para fazer o que mais ama!
Em pouco tempo, a demanda por volume de textos a fez contratar redatores profissionais. O site virou um negócio, precisou de um auxiliar administrativo para resolver as burocracias da empresa.
Logo ela viu que os redatores não escreviam com a mesma paixão do que ela. Dava pra ver nitidamente a perda da qualidade do conteúdo.
As crônicas também não eram mais sobre o que gostava falar. Os assuntos não saiam mais do coração, e sim, de uma ferramenta que listava as palavras chave mais fáceis de aparecerem no Google.
Ela colocou tanta energia nesse projeto, que começou a ficar cansada, estressada…. Escrever deixou de ser prazeroso quando virou obrigação. Perdeu o brilho, o amor se perdeu.
Um amigo aconselhou: você precisa ventilar a cabeça, precisa de um novo hobby. Ela pensou, refletiu e decidiu: vou tomar aulas de cerâmica!
Apaixonou-se, aprimorou a técnica, recebeu elogios de seus colegas e tutores. Até que um dia, perguntaram a ela:
Você vende estas peças?
e um novo ciclo vicioso começou.
—
Transformar o hobby em profissão pode ser furada…
Mas pode dar super certo!
Nossa relação com o trabalho não precisa ser tóxica e angustiante, mas não tem jeito: pra conseguir tirar dinheiro das pessoas, você tem que entregar valor a elas (a menos que decida trabalhar com roubo ou furto hahah).
O órgão mais sensível do corpo humano é o bolso.
Para viver do seu hobby você vai ter que aprender sobre impostos, leis, liderança, matemática financeira…
Para sustentar essa máquina toda, vai começar a fazer não só o que gosta.
Vai fazer muita coisa que não gosta por obrigação de leis e burocracias.
Vai precisar fazer o que as pessoas gostam, mesmo que você não goste.
Agradar pessoas é um baita desafio. Sempre vai ter quem reclame do prazo, do preço, do funcionário mau humorado (que você também terá que lidar).
Os interesses das pessoas são os mais diversos, e sempre, sempre, sempreee voltados para elas mesmas.
Vai ter interesses de pessoas que vão ferir seus valores. Vai ter comportamentos abusivo de clientes. Vai ter um monte de tarefinhas inúteis para trabalhar dentro da lei….
O lado bom de trabalhar com hobby
Seria hipócrita da minha parte dizer que transformar o hobby em profissão é furada, afinal, eu fiz isso em 2015.
Eu me formei e trabalhei por 10 anos com computação, e desde novinha, gostava de preparar doces e sobremesas para a família.
Eu larguei a carreira de Tecnologia para viver de chocolate, e vivo disso até hoje.
Tem perrengue e humilhação todo dia: cliente inadimplente, colaborador que não colabora, máquinas que param, cacau em falta no mercado por causa do clima, aumento de impostos que acontecem de um dia pro outro e a gente tem que se virar pra descobrir como calcular…
Mas também tem o prazer de desenvolver um chocolate novo e ver todo mundo elogiando. O orgulho de ver a marca na prateleira do melhor supermercado da cidade. A emoção de ver crianças comendo Ovos de Páscoa pela primeira vez.
Empreender no Brasil é para os fortes e corajosos. Mas tem muita gente forte e corajosa por aqui! E eu garanto que vale a pena!
Recessão e fontes alternativas de renda.
Desde a pandemia, o mundo todo está sofrendo recessão econômica. Ganhar um dinheiro a mais fazendo o que se gosta é muito tentador.
As redes sociais também propagam um estilo de vida onde se faz fortunas trabalhando com lifestyle. Ficou muito mais fácil vender sua cerâmica, seus biscoitos ou toalhinhas de crochê no Instagram do que quando isso não existia.
As ferramentas digitais melhoraram muito a forma como fazemos negócios, e quem trabalhar duro, vai ter bons resultados (só mantenha o pé no chão, os resultados dificilmente são iguais os que os influencers vendem, viu).
Um conselho para quem quer transformar hobby em profissão
Não vou aconselhar que você nunca trabalhe com o seu hobby. Muito pelo contrário: montei um curso para quem quer sair da CLT e ter seu próprio negócio no ramo de chocolateria.
Se eu não acreditasse que pode ser mais prazeroso do que chato, não faria isso.
Meu conselho é apenas um: saiba que não vai legal o tempo todo.
Um vez que você passa a ter prazos para entregar, ter que cobrar caloteiro que encomendou e não pagou, ter que mudar a receita ou a cor da cerâmica para agradar outras pessoas, seu hobby perde a capacidade de ligar a chavinha que liberava o hormônio do prazer e alegria em seu cérebro.
Por isso, tão logo você comece a monetizar o seu hobby, encontre outro para por no lugar.
De preferência, algo que não possa ser vendido e monetizado.
(eu confesso que ainda não encontrei um. Acho que vou fazer cerâmica).