No fantástico mundo da chocolateria, há uma revolução que vai além do sabor: a sustentabilidade. Hoje, vamos mergulhar nas práticas de Sustentabilidade no Mundo do Chocolate destacando como o movimento “Bean to Bar” está fazendo a diferença.


O lado nada doce do chocolate

A agricultura extrativista, especialmente quando praticada sem regulamentações ou consideração pela sustentabilidade, pode ter consequências significativas tanto para o meio ambiente quanto para as comunidades locais.

Ambientalmente, práticas agrícolas não sustentáveis podem levar à destruição de habitats, perda de biodiversidade, e desequilíbrios ecológicos.

Socialmente, tais práticas frequentemente envolvem abusos, incluindo exploração de trabalho, condições precárias e injustas para os trabalhadores, e impactos negativos no modo de vida das comunidades locais.

Essas práticas podem perpetuar ciclos de pobreza e limitar o acesso a recursos essenciais, exacerbando desigualdades sociais.

Tanto o cacau quanto o açúcar se encaixam nessa triste realidade.


O chocolate barato que sai caro.

A conscientização global sobre as questões de exploração na cultura do cacau começou a se intensificar principalmente nas décadas de 1990 e 2000.

Durante este período, surgiram relatórios e investigações jornalísticas que destacavam as condições de trabalho desumanas, incluindo o uso de trabalho infantil especialmente em regiões produtoras de cacau na África Ocidental, maior produtora de cacau do mundo.

Sabe aquele chocolate baratinho? Pode ter sido feito por trabalho escravo.

Essas revelações impulsionaram debates e iniciativas para promover práticas mais éticas e sustentáveis na indústria do chocolate.

Quem financia o chocolate baratinho sendo que o cacau está caro?

Movimentos de retorno à Naturalidade

A história é recheada de movimentos culturais que buscam contrapor a industrialização exagerada.

Nos anos 70, O movimento “Farm to Table”, enfatizou o consumo de produtos mais naturais e locais.

Esse movimento surgiu em resposta às preocupações crescentes sobre as práticas de produção industrial de alimentos, buscando promover a agricultura sustentável, produtos locais, e uma maior conexão entre os consumidores e a origem de seus alimentos.

Eat Clean

Nos anos 2000, o movimento “Eat Clean” ganhou popularidade. Aqui no Brasil, ficou famosa a dieta Paleo, e a busca por rótulos limpos.

Este movimento se concentra na ingestão de alimentos integrais e minimamente processados, evitando aditivos, conservantes e ingredientes artificiais.

O objetivo é promover uma alimentação mais saudável e natural, alinhando-se com uma crescente consciência sobre a relação entre dieta, saúde e bem-estar.

Pense globalmente, consuma localmente

O movimento “Think Global, Eat Local” começou a se formar na década de 1980 e se fortaleceu na primeira década dos anos 2000.

Esse movimento reflete uma crescente consciência ambiental e um interesse em apoiar comunidades e economias locais através de escolhas alimentares mais conscientes e sustentáveis.


Sustentável, ético e nutritivo.

A Sustentabilidade no Mundo do Chocolate

O chocolate é um alimento amado e amplamente consumido ao redor do mundo.

Justamente na época em que os movimentos de regresso à alimentação simples, nutritiva e natural ganhavam força, o chocolate e o cacau foram reconhecidos como alimentos funcionais.

Foi nesse período que estudos científicos mais robustos sobre os benefícios para a saúde dos flavonóides presentes no cacau começaram a ser divulgados amplamente.

Estes estudos enfatizaram os efeitos positivos do cacau na saúde cardiovascular e cognitiva, aumentando o interesse por chocolates mais puros e ricos em cacau.

Em resposta a todo esse cenário de valorização do cacau e chocolate como alimento nutritivo e benéfico a saúde, em contraste com as más práticas de cultura do cacau e do açúcar, que surge o movimento Bean To Bar.


embalagens de chocolate artesanais devem servir para um propósito além da estética.
O movimento bean to bar veio para atender a busca por saudabilidade e sustentabilidade.

Sustentabilidade no Mundo do Chocolate: O movimento Bean to Bar

O “Bean to Bar” é mais do que um processo, é uma filosofia. Focando em qualidade e ética, este movimento prioriza o uso de cacau obtido de forma sustentável, valorizando cada etapa da produção.

Transparência na Cadeia de Suprimentos:
Exemplos como os da Java Chocolates mostram como a transparência completa na origem do cacau é crucial.

Este compromisso com a ética garante não apenas um chocolate de alta qualidade, mas também apoia práticas justas de cultivo.

Parcerias com Agricultores Locais:
A chave para uma produção sustentável está nas mãos dos agricultores.

Ao estabelecer parcerias diretas, empresas “Bean to Bar” incentivam métodos de cultivo que respeitam o meio ambiente e melhoram a qualidade de vida dos produtores.

Com o incentivo financeiro para melhorar seu produto, o cacauicultor também melhora suas práticas agrícolas.

Redução do Impacto Ambiental:
A sustentabilidade também passa por reduzir a pegada ecológica na produção de chocolate.

Desde a melhoria dos processos agrícolas que reduzem o impacto ambiental, o uso de embalagens biodegradáveis até métodos de produção que economizam energia, cada etapa conta.

A Java Chocolates, por exemplo, usa energia solar para tocar suas máquinas e aquecimento da água.

Saudabilidade:
Uma vertente forte no movimento bean to bar é valorizar o trabalho do produtor, ressaltando a qualidade do seu cacau.

É comum vermos chocolates bean to bar que usam cacau de apenas uma fazenda, e com formulações limpas.

Ao excluir os aromatizantes, os conservantes e reduzir o açúcar, o destaque fica todo com as notas sensoriais do cacau.

Por isso a ligação tão forte do movimento bean to bar com as dietas paleo, low carb e a nutrição funcional.

Educação e Consciência do Consumidor:
Ainda hoje, 30 anos depois do primeiro movimento em prol da sustentabilidade, ainda é preciso educar os consumidores.

É justo que muito custe o que muito vale: os chocolates bean to bar não são baratos justamente por prezar pela ética e pela sustentabilidade, além de ingredientes mais puros.

A consciência de que produtos muito baratos estão prejudicando alguém nessa cadeia produtiva ainda é muito baixa, principalmente no Brasil.

É um trabalho de formiguinha educar e conscientizar o consumidor.

Na Java, mantenho um blog com informações sobre sustentabilidade e nutrição desde 2015 – que inclusive é bastante copiado por meus concorrentes.

Ao compreender a origem e o impacto do chocolate que consomem, os clientes se tornam participantes ativos nesta jornada sustentável.

Sustentabilidade no Mundo do Chocolate Industrial

São os pequenos artesãos que criam as tendências e não o contrário.

Os pequenos fabricantes estão mais próximos ao seu público para ouvir seus desejos, e tem agilidade para atendê-los.

A grande indústria observa o amadurecimento da tendência e decide se vai entrar: seja comprando uma indústria pequena para por em seu portfólio ou copiando os produtos.

Observe: todas as grandes marcas de chocolate hoje trazem algum selo de sustentabilidade do cacau.

Todas as marcas criaram um chocolate ao leite vegano.

Nestlé, Lacta, Barry Callebaut.

Algumas, como a Cacau Show, criaram uma linha bean to bar ou adotaram esse nome em sua cadeia produtiva.

Isso é ótimo para massificar a necessidade de olhar para a sustentabilidade, mas relativiza o trabalho minucioso do artesão.

Tendências para 2024: A sustentabilidade segue forte.

Como sempre eu digo: só temos duas certezas na vida, e uma delas é que tudo muda o tempo todo, inclusive o mercado.

As tendências de sustentabilidade e naturalidade continuam fortes no segmento de alimentação, como escrevi neste artigo.

Mesmo com a crise econômica global, o consumidor continua escolhendo gastar seu dinheiro de maneira mais sustentável e ética.

E apesar de o preço ainda ser uma barreira grande, essa preferência dos consumidores apontam para um futuro melhor para nosso planeta.


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