Perspectivas para o mercado de cacau em 2025: desafios globais e impactos no Brasil

O mercado do cacau em 2024 enfrenta uma série de desafios, principalmente relacionados ao clima, à sustentabilidade e às cotações elevadas. Para entender o cenário desse ano, é essencial analisar tanto a produção mundial quanto o impacto dessas questões na produção brasileira.

Clima e produção global

As duas maiores regiões produtoras de cacau do mundo, Gana e Costa do Marfim, responsáveis por cerca de 60% do suprimento global, enfrentaram graves problemas climáticos em 2023, que continuam a impactar o setor em 2024.

A seca e o manejo inadequado de pragas reduziram significativamente a colheita nessas regiões, o que levou os preços do cacau a alcançarem níveis recordes.

Em 2024, o preço do cacau chegou a US$ 7.000 por tonelada, o maior valor em mais de 40 anos. O mercado global, que tradicionalmente vê um equilíbrio entre oferta e demanda, agora enfrenta uma instabilidade preocupante.

O mercado de cacau no Brasil

O Brasil, que já foi um dos maiores produtores de cacau do mundo, continua em um caminho de recuperação.

O país também sofre os efeitos do clima, ora com chuvas excessivas, ora com secas devastadoras.

Embora o Brasil não esteja entre os maiores produtores globais, o cacau brasileiro tem um diferencial importante: a produção sustentável, que ganha cada vez mais relevância no mercado internacional.

Sustentabilidade e regulação

A pressão por práticas mais sustentáveis no setor de cacau se intensificou com a implementação da Regulação de Desmatamento da União Europeia (EUDR).

A nova lei proíbe a importação de produtos, incluindo cacau, que estejam ligados ao desmatamento.

Isso afeta diretamente países como Gana e Costa do Marfim, mas também desafia produtores brasileiros a se adequarem, promovendo o uso de tecnologias de rastreabilidade e práticas que garantam a preservação ambiental.

Além disso, consumidores em mercados desenvolvidos estão cada vez mais exigentes com relação à origem dos produtos que consomem, demandando cacau ético e sustentável.

O mercado consumidor Brasileiro

Aqui no Brasil tivemos uma forte onda de conscientização quanto a origem e produção sustentável em meados de 2014, mas com as frequentes crises financeiras que vimos enfrentando desde então, a população perdeu seu poder de compra, o que afeta o chamado mercado verde.

Isso porque, a produção sustentável e ética implica em maiores controles e custos. Tais custos são repassados (e taxados), resultando em produtos mais caros que aqueles que não tem a pegada sustentável.

Quando o bolso aperta, é comum consumidores trocarem marcas premium por produtos comuns, como forma de fazer caber em seu orçamento.

É comum a troca de produtos premium por outros de menor qualidade durante crises econômicas.

A demanda e a transformação da indústria

Apesar das questões climáticas e da volatilidade no mercado, o setor de chocolates e produtos à base de cacau continua crescendo, especialmente com o aumento da demanda por produtos mais naturais, com menos açúcares e aditivos.

O Brasil, com seu cacau de origem e práticas sustentáveis, tem potencial para se destacar nesse mercado. Marcas que conseguem unir sabor, qualidade e sustentabilidade têm uma vantagem competitiva importante.

A Java Chocolates está sentindo a crise, porém, tem sua base de clientes fiéis que confiam na marca para consumo de produtos seguros para alérgicos, éticos e sustentáveis.

Mercado do cacau segue com cotações elevadas e incertezas

A combinação de colheitas reduzidas e a crescente demanda por cacau resultou em uma alta nos preços, que impacta toda a cadeia de produção.

Para os produtores brasileiros, isso pode significar oportunidades, já que o mercado está disposto a pagar mais por cacau de qualidade. No entanto, o futuro ainda é incerto.

Em conversas com clientes e fornecedores, já ouvi comentários como “agora os produtores ficarão ricos”, ou que “os fabricantes de chocolate enlouqueceram”.

Mas a realidade no front é outra. Vi produtores sem conseguir colher o fruto que garantem seu sustento, e abrindo mão de despesas com selos de qualidade, como o de cacau orgânico, e chocolateiros fechando as portas por insistirem em não repassar os preços.

O jeito é rezar para São Pedro trazer chuvas.

Mercado do cacau em 2025

As previsões para o mercado de cacau no Brasil em 2025 indicam uma recuperação gradual da produção mundial.

As iniciativas para melhorar a sustentabilidade e a produtividade devem ganhar força, com o uso crescente de tecnologias de rastreamento de lavouras e práticas agrícolas mais eficientes.

Além disso, a adaptação às regulamentações ambientais internacionais, como a EUDR, será essencial para manter o cacau brasileiro competitivo no mercado global.

Espera-se que o Brasil alcance cerca de 250 mil toneladas em 2025, um aumento em relação ao ano anterior, à medida que os produtores se adaptam a técnicas agrícolas mais modernas e o clima se estabilize.

No entanto, o mundo ainda enfrentará desafios relacionados às mudanças climáticas e à oscilação de preços no mercado internacional.

O aumento da demanda por produtos sustentáveis e com foco no comércio justo também continuará a impactar positivamente os produtores brasileiros, especialmente aqueles que conseguem atender às expectativas de consumidores que buscam cacau rastreável e ético.

Essas mudanças estruturais no mercado podem fortalecer a posição do Brasil como um dos principais players no segmento de cacau de qualidade e cacau premium.

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