O mercado do cacau enfrenta uma crise sem precedentes devido às mudanças climáticas.
A lavoura do cacau, uma planta já sensível por natureza, está sendo afetada por condições climáticas extremas, como secas prolongadas, ondas de calor e padrões de chuva irregulares.
A crise do cacau desencadeada pela chegada do fenômeno La Nina no final de 2023, não apenas afeta a qualidade e a quantidade do cacau produzido, mas também coloca em risco a renda de milhões de agricultores em regiões tropicais, que dependem do fruto para sobreviver.
Estamos vendo os efeitos da mudança climática nas plantações de cacau em todo o mundo.
Países como Gana e Costa do Marfim, que juntos produzem cerca de 60% do cacau mundial, estão enfrentando dificuldades crescentes para manter seus níveis de produção.
O aumento de pragas e doenças, intensificado pelas condições climáticas, está reduzindo drasticamente as colheitas.
Quem trabalha com chocolate é testemunha da loucura que está esta crise: os preços nas alturas, e cacauicultores que não conseguem colher os frutos para vender. Está faltando tudo: amêndoas, cacau em pó, manteiga de cacau, etc.
Diante dessa crise do cacau, cientistas têm se dedicado a encontrar soluções que possam garantir a sustentabilidade da produção, principalmente nestes países africanos.
A grande indústria está investindo pesado em ingredientes alternativos para manter a continuidade de seus negócios. Uma das abordagens mais promissoras é a pesquisa de novas variedades de cacau que sejam mais resistentes às adversidades climáticas.
Recentemente, uma descoberta importante foi feita nas florestas tropicais da América do Sul, onde cientistas identificaram três novas espécies de cacau que têm o potencial de revolucionar a indústria.
Essas novas espécies pertencem à família Herrania, que é “parente” do Theobroma cacao, a planta usada na produção de chocolate.
A Herrania é menos conhecida no mercado, mas sua resistência natural a condições ambientais adversas a torna uma alternativa promissora para o desenvolvimento de árvores de cacau mais resistentes.
Essa descoberta oferece uma esperança para a continuidade da produção de cacau, mas podem impactar no sabor do tão amado chocolate.
Tudo o que a gente substitui, deixa o sabor diferente. Falo muito sobre isso na aula sobre ingredientes alternativos do curso Chocolate Decodificado. Exemplo clássico: um brigadeiro vegano feito com leite de coco não vai ter sabor e textura idênticas a um brigadeiro feito com leite condensado.
É esperado que novas espécies tragam perfis de sabor diferentes. Melhor ou pior, não sabemos – mas com certeza, diferente.
Entretanto, a adaptação dessas novas espécies ao cultivo comercial ainda enfrenta desafios. O processo de domesticação e melhoramento genético pode ser demorado e caro.
É interessante lembrar que já existem experimentos relacionados ao cupuaçu como alternativa ao cacau, principalmente na fase gordurosa – ou seja, na manteiga de cacau. Pesquise aí sobre CUPULATE.
De toda forma, a pesquisa em torno dessas novas espécies de cacau é um exemplo de como a ciência e a tecnologia podem oferecer soluções inovadoras para problemas complexos.
Mas não podemos esquecer que não só adianta criar alternativas. É preciso resolver o problema raiz que causa os estragos climáticos.
Para aqueles que atuam no setor, resta torcer para que um futuro mais resiliente e diversificado esteja próximo.Por mais que condenem a mudança genética, tudo caminha para que ela seja uma solução de sustentabilidade.
Aqueles interessados em saber mais sobre essa descoberta podem acessar o artigo completo aqui.
Referências:
- Confectionery News: “Have scientists discovered climate-proof chocolate?” Acesso em 21 de agosto de 2024.
Esse é o momento de refletir sobre a importância da inovação no combate às mudanças climáticas e sobre como cada um de nós, como consumidores ou produtores, pode contribuir para um futuro sustentável na indústria do cacau.