Chocolate Artesanal em 2024: Uma Combinação de Qualidade, Sustentabilidade e Preferências de Consumo em Evolução
O mercado de chocolate artesanal está passando por transformações significativas.
Impulsionado pelas preferências dos consumidores, especialmente entre os Millennials e a Geração Z, e agravado pelos impactos do El Niño na produção de cacau, a indústria está em um ponto crucial.
Como participante neste mercado desde 2014, fiz uma extensa pesquisa para meu planejamento estratégico e compartilho aqui algumas tendências.
Preferências dos Consumidores e Dinâmicas de Mercado
Apesar da crise financeira global, as pesquisas indicam que a demanda por chocolate premium e de alta qualidade continua a crescer.
Os consumidores economicamente ativos, especialmente os Millennials, buscam experiências únicas, raras e sazonais, com forte preferência por edições limitadas e chocolates com múltiplas texturas.
A gourmetização excessiva perdeu força, mas a valorização de produtos artesanais continua.
Com o aperto econômico, o Millenial escolhe melhor como gastar seu dinheiro, priorizando qualidade à quantidade.
Esse consumidor também se permite pequenos luxos indulgentes, como parte do seu plano de qualidade de vida.
Essa tendência para chocolates finos e artesanais pode ser intensificada com a influência da Geração Z.
Como já nasceram com os narizes colados às telas, as preferências da Geração Z por produtos bonitos, exclusivos e eticamente produzidos impulsionarão a indústria do chocolate artesanal.
Este mercado ainda é incipiente, pois essa turminha ainda está começando a ganhar seu dinheiro, mas é algo para observarmos.
Tendências de Saúde e Sustentabilidade
Quando eu fundei a Java, vivíamos o auge da gourmetização – mas as tendências já apontavam para a saúde e sustentabilidade.
10 anos depois, ela se mantém.
Cerca de 75% dos consumidores globais acreditam que o chocolate deve ser gostoso, benéfico para a saúde e bom para o planeta.
Apesar do paladar adocidado da nossa cultura, há um aumento na preferência de chocolates com maior teor de cacau e menos açúcar.
Ainda estamos longe de ter uma população com paladar pronto para o chocolate 70%, mas os chocolates meio amargos já estão ganhando espaço na preferência de pessoas acima dos 30 anos (dados internos).
Tanto os Millennials quanto a Geração Z demonstram consciência de saúde e sustentabilidade, e querem trazer isso para os alimentos indulgentes, como doces, gomas e bebidas.
Os estudos indicam que a demanda por chocolate que seja bom para a saúde pessoal, para o planeta e produzido de forma ética se alinha com a crescente popularidade das opções de chocolate vegano e à base de plantas.
A onda do veganismo surgiu como resposta de uma tendência mais ampla de responsabilidade ambiental e uma abordagem holística da saúde.
A tendência de Indulgência Saudável, focando em chocolates com ingredientes benéficos e que apoiam a saúde mental, está ganhando força.
Naturalidade e Autenticidade:
Outro dado que me surpreendeu foi a manutenção da tendência da busca pela naturalidade e autenticidade.
Com o passar dos anos, vi muitas empresas explodirem no mercado com chocolates ditos saudáveis, mas lotados de adoçantes, conservantes e ingredientes artificiais.
Geralmente, estas marcas tem por trás influenciadoras fitness que vendem o sonho do corpo perfeito. Tenho certeza de que você conhece alguma!
Mas, as pesquisas de consumo global indicam que 41% dos consumidores preferem produtos com rótulo limpo, autêntico e sem aditivos. Mais da metade destes, escolhem também produtos sem glúten e a base de plantas.
Palmas para eles!!!!
Saudáveis, éticos e de bem com a própria imagem.
As preferências dos Millennials e da Geração Z são cruciais para moldar o mercado, já que eles já são a maioria da população economicamente ativa.
A inclinação dos Millennials para chocolates finos e consumo ético alinha-se com as tendências de Indulgência Consciente e Saudável.
A influência digital da Geração Z e suas preocupações ambientais reforçam a demanda por opções sustentáveis e à base de plantas.
Sua abordagem holística das escolhas alimentares, focando no bem-estar geral em vez de apenas na perda de peso, reflete também em suas preferências por chocolate.
Mas nem tudo são flores no chocolate artesanal
Impacto do El Niño e das Mudanças Climáticas
Tenho que ser bem honesta aqui. Empreender no Brasil é para corajosos.
Só em 2023, tivemos mudança em leis de rotulagem, trabalhistas e no cálculo do ICMS. Trabalhamos mais horas para adequação às leis do que em desenvolvimento de novos produtos.
Além disso, o mercado de chocolate artesanal também enfrenta desafios do ponto de vista ambiental.
O fenômeno climático El Niño, aliado às mudanças climáticas globais, levou a padrões de chuva e calor alterados nas principais regiões produtoras de cacau, especialmente na África Ocidental.
A África contribui com cerca de 70% do cacau mundial, o El Niño deixou as estações mais quentes e secas. Essa mudança climática resultou em uma escassez de cacau.
No Brasil, o El Niño está afetando todas as práticas agrícolas, incluindo o cultivo de cacau. A meteorologista Desireé Brandt, da Nottus, destaca que os efeitos estão mais pronunciados e podem levar a padrões de chuva alterados, prejudiciais ao trabalho agrícola.
O fenômeno trouxe ondas de calor e secas no norte e nordeste, enquanto causava chuvas excessivas nas regiões Sul, destruindo as lavouras e impactando a qualidade das colheitas.
Com a alta demanda e a baixa oferta, o preço mundial do cacau e outros produtos agrícolas (como o açúcar) aumentou astronomicamente.
Escassez de cacau e Ondas de Calor
Outro desafio que veio no pacote do El Niño é o calor intenso.
Chocolate de qualidade, feito 100% com manteiga de cacau, derrete.
Logo, o investimento em sistemas de ar condicionado precisam ser intensificados nas fábricas e lojas de chocolate. Há também o aumento da energia elétrica para manter o maquinário funcionando dia e noite.
Chocolate BOM, DERRETE. E por mais que isso seja um indicativo de qualidade, o consumidor brasileiro ainda não pegou esta ideia.
É comum consumidores quererem devolver chocolates para a fábrica por estarem derretidos. Para evitar prejuízos, as fábricas precisam investir em embalagens com isolante térmico, como isopor, para reduzir as reclamações e devoluções.
Isso impacta no custo do produto e também na produção de mais lixo no planeta – que leva a alterações climáticas – e alimenta esse ciclo vicioso.
Vale a pena investir?
Em resumo, o mercado de chocolate artesanal em 2024 é um complexo interjogo de qualidade, sustentabilidade e preferências de consumo em evolução.
Os desafios no cultivo de cacau devido às mudanças climáticas enfatizam a importância de práticas sustentáveis.
Ao mesmo tempo, as preferências dos Millennials e da Geração Z por escolhas éticas, sustentáveis e conscientes em termos de saúde estão impulsionando os tipos de produtos de chocolate com essa pegada mais ECO, porém esbarram na barreira do preço.
À medida que avançamos, fica claro que a indústria de chocolate artesanal deve se adaptar a essas mudanças dinâmicas para prosperar nos próximos anos.
Apesar dos desafios, o consumo do chocolate sempre estará presente na vida das pessoas. Seja para comemorar, para se desculpar, para aliviar a tristeza e sentir-se bem.
Ele é conforto durante crises, e presente em comemorações. Faça chuva ou faça sol, chocolate é sim um bom negócio.